Recentemente, tive a honra de participar do evento Meninas nas Ciências - Inspirando as futuras gerações ao desenvolvimento da ciência, promovido pela Escola Cidadã Integral Técnica - ECIT Presidente João Goulart. Compartilhar minha trajetória com os jovens estudantes foi um marco na minha jornada, permitindo-me refletir sobre como transformei desafios em oportunidades enquanto navegava por um campo predominantemente masculino.
Minha trajetória até aqui foi repleta de descobertas, desafios e muita motivação, especialmente por ser mulher neste ambiente ainda predominantemente masculino. A escolha por essa carreira profissional foi inicialmente inesperada. Meu sonho era cursar Engenharia Elétrica, mas, ao não conseguir a vaga de meu interesse, resolvi optar por Engenharia de Materiais. Na época, o plano era trocar de curso mais tarde. Contudo, ao me aprofundar nas disciplinas que tinham a química e a modificação dos materiais como foco, percebi que havia ali uma paixão que eu não conhecia.
Conectando Sustentabilidade na Engenharia de Materiais
Entrar no curso foi em si um desafio: logo nos primeiros semestres percebi que em muitas turmas eu era uma das poucas mulheres presentes. Esta realidade despertou sentimentos de insegurança e a constante necessidade de provar meu valor, mas também me deu força para persistir e demonstrar que eu pertenço àquele lugar. A inquietação sobre como os materiais funcionavam e como eles poderiam ser transformados foi meu suporte para seguir em frente. Conforme fui aprendendo, mais eu percebia que Engenharia de Materiais era o lugar no qual eu poderia me desenvolver e contribuir.
Um dos primeiros projetos que desenvolvi envolveu materiais compósitos, no qual trabalhei por dois anos. Utilizamos cinzas de bagaço de cana e folhas de bananeira para reforçar uma matriz metálica de alumínio reciclado. Esse projeto não apenas aprofundou meu conhecimento em engenharia de metais, mas também destacou a import ância da reutilização de recursos e da busca por soluções ambientais. Como mulher cientista, vi nisso uma oportunidade de demonstrar que a engenharia de materiais deve ser pautada pela consciência ambiental.
Dando continuidade à minha trajetória de pesquisa científica, trabalhei na produção de tijolos ecológicos utilizando resíduos agrícolas e urbanos, como o pseudocaule da bananeira e bitucas de cigarro. Esse projeto foi altamente motivador, pois mostrou, mais uma vez, como a ciência pode contribuir para a sustentabilidade e a redução de impactos ambientais. Enfrentar o desafio de atuar em um campo predominantemente masculino, como a construção civil, me ajudou a quebrar estereótipos e me deu confiança ao ver o potencial do meu trabalho.
Em seguida, enfrentei um novo desafio: obter celulose a partir de resíduos agrícolas. Sob a orientação da professora Sueila Araújo, do Departamento de Engenharia de Materiais e colaboradora do LABOAA, esse projeto se destacou na minha trajetória acadêmica. Desenvolver um processo de extração e tratamento da celulose revelou como é possível transformar o que seria considerado lixo em uma matéria-prima de alto valor. Essa pesquisa não apenas ampliou meu conhecimento técnico, mas também aprofundou minha compreensão de como a ciência dos materiais pode promover soluções sustentáveis e ambientalmente responsáveis.
Percebo que, desde o início, fui atraída pela possibilidade de dar valor a resíduos. Trabalhar com eles me trouxe uma conexão profunda com a sustentabilidade. Meu objetivo sempre foi encontrar maneiras de transformar o que parece não ter utilidade em algo valioso, com o potencial de ajudar na preservação dos recursos naturais. Essa missão guiou minhas escolhas e me fez enxergar a ciência como uma ferramenta de transformação, não apenas para o avanço tecnológico, mas também para a proteção do meio ambiente.
Ao olhar para trás, vejo o quanto minha trajetória na Engenharia de Materiais moldou não só minha carreira, mas também minha visão de mundo. A ciência me ensinou a buscar soluções que não apenas resolvam problemas técnicos, mas que tenham um impacto positivo no meio ambiente e na sociedade. Como mulher cientista, sei que minha presença neste campo é importante para abrir portas para outras mulheres que, assim como eu, talvez sintam que precisam provar seu valor. Minha trajetória tem sido desafiadora, mas também extremamente gratificante. Com o apoio de orientadores e colegas, fui desenvolvendo habilidades e aprendendo que meu papel como mulher cientista não era apenas técnico, mas também de representatividade.
Olhando para o futuro, estou empolgada para explorar ainda mais as possibilidades que a ciência dos materiais oferece. Desejo continuar desenvolvendo soluções inovadoras e sustentáveis, sabendo que cada passo que dou ajuda a romper barreiras e a abrir portas para outras mulheres na ciência e na engenharia. Espero que minha trajetória inspire outras mulheres a seguir seus próprios caminhos nesse campo, desafiando estereótipos e contribuindo para um futuro mais sustentável e inclusivo.